Explorando terras vikings

Dos seus campos de lava aos seus glaciares, das suas cascatas às suas praias negras, das suas montanhas coloridas e fumarentas aos seus vales verdejantes, dos seus longos dias às suas noites mágicas repletas de auroras boreais… um sítio onde homem e natureza coabitam em paz e harmonia. 

Saindo do aeroporto e pisando-se o solo verdadeiramente islandês somos recebidos com um ar puro e frio característico, mas ar este também caracterizado com um “leve” toque de enxofre. Apesar de um início algo controverso partimos para a (antiga) capital viking mais a norte da Europa, Reiquejavique. Bem… para uma capital europeia é incrivelmente calma e os seus habitantes (embora às vezes com problemas no seu inglês) genuinamente simpáticas, sendo o marco mais significativo e conhecido a sua catedral no coração da cidade. Catedral esta que embora de aspeto simples é deveras imponente e com uma arquitetura bastante distinta do habitual – uma arquitetura que uns defendem ser a entrada para Asgard (o reino dos deuses viking), enquanto outros defendem parecer uma nave espacial… 

 Continuando esta jornada refrescante nota-se uma interessante dualidade arquitetónica nesta pequena capital europeia, ora marcada pelas suas ruas coloridas e cheias de vida, ora marcada por edifícios realmente tirados de um filme de ficção científica. 

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Com tanta caminhada chega a altura da primeira aventura: a gastronomia local. Com uma economia forte os preços quer a nível do supermercado quer a nível da restauração são elevados, por isso acabamos num restaurante de sopas, sabíamos lá nós onde nos estávamos a meter…, mas seguimos em frente destemidos… Para surpresa nossa, este seria um restaurante bem conhecido e visitado quer por turistas como locais, devido ao simples facto de se poder repetir as quantas vezes se quiser! Sendo a sopa servida dentro de um pão o único senão é que só se podia repetir sem se pagar extra enquanto o pão estivesse capaz de reter a sopa dentro de ele.

 Existe mesmo uma competição estando as paredes decoradas com fotos de pessoas e as suas repetições. 

Para terminar esta aventura gastronómica lá nos aventurámos a provar tubarão, baleia e puffin. Ao que apenas posso dizer: não provem nenhum e poupem o dinheiro para algo melhor como a sopa de peixe que era surreal!!  

Deixando a capital para trás é tempo de nos fazermos á estrada e conhecer o esplendor que atrai milhões de turistas todos os anos a esta modesta ilha no círculo ártico.  

– Mas antes gostaria de deixar aqui mais uma peripécia: imaginem-se a tentar fazer uma viagem de autocarro do vosso hotel até á estação de autocarros, algo simples pensariam vocês (e com razão), mas… nestas viagens há sempre um toque extra de sorte misturado com adrenalina. Devido á barreira linguística a condutora não percebeu que apesar de não estarem a aceitar cartões de crédito que poderíamos pagar com dinheiro e deixou-nos prosseguir de borla, ora estando nós contentes somos apanhados de surpresa quando ela arranca parecendo estar numa prova de rally, tal era a aceleração que nem nos mexíamos senão estaríamos a beijar o chão, então quando parava… era basicamente o oposto, era tudo a se agarrar para não ser cuspido até á parte da frente do autocarro. 

Deixando a capital para trás o cenário muda radicalmente, tal como acontece com a noite e o dia. Os prédios passam a enormes e magníficas encontras verdejantes, as ruas rodeadas por lojas passam a estradas cercadas por ora vastos campos de pasto naturais, ora por lagos infinitos.  Onde a escassos quilómetros da capital chegamos á famosa Golden Circle, onde os continentes americano e europeu se ergam por desfiladeiros imensos, e onde vapor de água é expelido a dezenas de metros num derradeiro espetáculo da natureza. Foi no parque natural de Þingvellir, por entre os desfiladeiros formados pelas placas tectónicas, que a primeira cidade viking foi estabelecida na Islândia – onde também fora um sítio muito frequentado pelos jovens na altura para cortejar as raparigas.  

Apesar deste “parque arqueológico” natural, a sua envolvência é puramente mágica! Numa perfeita visão sobre um massivo vale de lençóis de água, aos sons dos pássaros, rematando numa vegetação fogosa de outono. 

Cercado por um ambiente quente, húmido, cercado por multidões, com uma leve fragância a enxofre no ar e múltiplas advertências a poças de água a mais de 80°C é assim que nos deparamos com o geyser! 

Deixando para trás a parte ora citadina ora mais turística desta ilha, seguimos rumo ao primeiro trilho verdadeiramente desafiante: a cascata de Glymur!  Com alguns nervos e com um ar frio e húmido a marcar o dia prosseguimos com esta primeira aventura. Um início simples por entre simples vegetação local dourada, mas com uma vista tão surreal que parece falsa. 

A um terço do caminho cavamos por ter de passar uma espécie de túnel naturalmente formado por entre rochas que nos leva ao rio, onde se encontra a parte mais engraçada deste trilho: atravessar o rio através de um tronco posto sobre o rio. 

Mas com reza o ditado, tudo o que desce tem de subir e agora sim começa a busca pelo que nos trouxe a fazer este trilho. Passando pela orla do desfiladeiro, atravessando caminhos quase cortados com pedras soltas ou com riachos a passar pelas nossas botas, a vegetação tornando-se cada vez mais escassa onde outrora cercados por uma ardente vegetação agora tudo se torna negro e sem vida. 

Porém chegamos ao nosso objetivo! Um misto de parque jurássico com espaço zen, onde o conceito de tempo desaparece, um ambiente caracterizado apenas com um ar fresco e um som tão bonito e simples da cascata massiva que se encontra a nossa frente. 

Chegando ao topo da cascata ficamos temos uma vista quase infinita sobre o vale e os montes que durante horas estávamos a subir. É agora que nos deparamos com uma decisão importante, voltar atrás pelo mesmo caminho ou arriscar e travessar a gélida água da cascata e ir por outro caminho até ao início. Pois bem, de calças arregaçadas, botas aos ombros e meias nos bolsos arriscamos atravessar o rio, e bem… apesar de hoje ter piada na altura o frio tornara os pés dormentes e antes as pedras provocavam dores agudas na planta dos mesmos. Apesar de escorregar duas vezes seguimos vitoriosos e conseguimos terminar o trilho – e claro que um banho de água quente foi imperativo! 

Atravessando o que parece o pântano do Shrek marcado por uma vista rochosa coberta por musgo verde, passando por mais imponentes montanhas com os seus picos nevados, desbravando por vales ora dourados do trigo ora verdejantes de pasto com ovelhas, avistando escassas e algo isoladas fumarolas assim se chega a mais um dos destinos mais cobiçados da ilha. 

Numa visão desafiando o próprio conceito da realidade damos de frente com a cascata Seljalandsfoss! Uma brutidade de água em queda livre dando um belo de um banho a todos os turistas que com os seus coloridos casacos fazia lembra um anúncio da United Colors of Benetton. 

Além desta vibrante atmosfera o mais marcante é o quanto a cascata isola os sons exteriores, apenas se ouvindo a água em queda livre. Porém, o melhor é mesmo a experiência de passar atrás da cascata – apenas deixarei esta foto para deixar os mais curiosos sonhar um pouco.

Seguindo a orla verdejante e cheia de minúsculas cascatas chega-se ao tesouro escondido desta área: a cascata de Gljufrabui.  

Apesar da sua imensa e lenta fila é imprescindível um pouco de fé e paciência e visitar esta gema aquática. Apesar de não se ver nada por fora é à medida que nos aproximamos da entrada da caverna que começamos a ouvir o glorioso som de mais uma valente cascata.

Após uma travessia que envolve alguma peripécia para atravessar um pequeno riacho, enquanto meio que se tem de saltar de pedra em pedra é quando nos deparamos com uma visão única, primitiva e pura, aliado a mais uma vez apenas a um único som que é o de água a correr como se não houvesse amanhã. Parecendo estar no meio de tornado dentro de uma selva com toda a água e vento a encher a atmosfera, o desconforto nunca passa pela cabeça de uma pessoa, mas sim o quão imponente a natureza é.  

Com tanta água no ar e no corpo mais vale seguir caminho em direção ao sol… 

Com uma primeira paragem no miradouro de Dyrhólaey para avaliar melhor a praia somos surpreendidos pela imensidão da ilha. Vistas infinitas do mar, às longínquas montanhas com o topo branco, passando por imensas praias negras e planícies verdejantes sem fim á vista. 

Num ambiente gélido, ventoso e algo encoberto avistam-se paisagens misteriosas levando a pessoa mais criativa a imaginar imensos cenários do estilo Hollywood.

Com o tempo cinzento a dar tréguas somos prendados com um dos melhores pôr-de-sol de sempre, num dos sítios mais icónicos possível: na Black sand beack! Caracterizada pela sua areia negra única e parecendo sem vida, contrastando com a turquesa do gélido mar do atlântico norte e com os vales verdejantes circundantes. 

Apesar de se estar na praia, estranhamente não havia vento nenhum!! Só faltava estarem os belos 25°C do verão. Porém a sessão fotográfica segue, assim como a próxima paragem… 

A famosa e acolhedora vila de Vik, caracterizada pela sua paz, seu sossego e pela sua igreja branca. 

Porém o mais “marcante” na pernoita nesta formosa vila começou á hora do jantar onde nos recomendam a ir ao cemitério da vila para ver as luzes do Norte – isto porque é o local mais escuro da vila. Apesar do frio e do cansaço eis que somos prendados pelos antepassados da ilha, ou por outras palavras, as portas de Asgard apresentam-se perante nós. 

Um espetáculo único da natureza que por mais que tente não irei conseguir descrever bem o suficiente a sua beleza. 

A aventura retomará na parte 2… 

Takk fyrir Islânida, e até breve! 

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