As 24 horas de Montenegro
Apesar das mais recentes aventuras já era altura de vos contar acerca da primeira aventura de todas. Montenegro! Uma pérola escondida à espera de ser descoberta na belíssima e turquesa costa dos Balcãs
Aproveitando a calada da noite, e como uma bela fatia de pizza a forrar o estômago, começa a viagem nocturna até à cidade de Kotor. Sem autoestradas a viagem torna-se algo desafiante para cerrar os olhos e tentar acordar fresco no destino – daí já haver sacos para vómitos em todas as cadeiras… Porém após ceder ao cansaço físico e psicológico acorda-se com uma vista tão assustadora como deslumbrante, um lago azul-turquesa intocado pelo homem cercado por montes e montanhas, mas… a parte assustadora… esta vista era tão de perto, mas tão de perto que só eram precisos uns escassos centímetros e o autocarro já estaria dentro do lago (e não, não havia rails de segurança).
Numa manhã sombria e típica de Janeiro, enquanto ora orvalha, ora o sol tenta espreitar por entre as nuvens, assim somos recebidos em Kotor. Embora sempre bem povoada pelos cruzeiros mediterrânicos que enchiam as suas belas e estreitas ruas, agora deparamo-nos com uma cidade meio deserto onde gatos parecem ser os seus governantes (tendo o seu próprio museu e tudo).
Por entre as suas ruas de pedra única e branca encontra-se a sua praça principal pequena e acolhedora cuja atmosfera se enche tanto pelo cheiro das chaminés dos locais como pelo belo som do sino da sua nobre capela.
Contudo, e apesar da bela vila que é Kotor, é a sua baía que mais atrai os seus visitantes. Após uma subida herculana por centenas de degraus assim se chega ao topo do forte da vila, e enquanto se aproveita para se almoçar, é quando ficamos sem fôlego com a vista… um azul limpo e quase infinito, um vale longuíssimo e sempre se vendo a bela vila que dá cor e vida ao vale durante os dias sombrios de inverno.
Altura de seguir para o apogeu da nossa aventura, mas sem antes experienciar o sistema rodoviário local. Habituados aos standards “aborrecidos” europeus, o que poderia ser uma viagem “chata e segura” tornou-se num episódio de risos contagiantes. Tendo a suspensão “algo” avariada somos apanhados de surpresa quando do nada a parte de trás do autocarro começa aos pulos como se fosse um cavalo a trotar, não conseguindo aguentar a piada do momento desato-me a rir pondo todos no autocarro a rir comigo. Porém chegamos bem ao destino seguinte.
Budva! O destino balnear de Montenegro e dos seus vizinhos, mas o que nos separava de perceber o porquê de ser tão concorrida, seria, porém, mais uma aventura rodoviária. Num autocarro sem problemas mecânicos e de tamanho convencional, contornando um desfiladeiro que mete medo a vertiginosos, o condutor decide parar o autocarro na berma da estrada e diz-nos que o nosso destino seria sempre a descer até ao mar a partir dali… Com fé no nosso amigo seguimos forte até que por entre casas e árvores avistamos o famoso mosteiro de Sveti Stefan.
Situada numa praia em forma de concha caracterizada pelas suas areias rosadas, e ligada apenas por uma estreita faixa rochosa encontra-se o antigo mosteiro de Sveti Stefan. Um complexo de proporções iguais a uma ilha que apesar de também dar ares de ser um antigo forte militar, não passa de nada mais nada menos do que um hotel… e com vista sempre para o mar.
Pensando-se estar perto do centro histórico de Budva aproveitamos para conhecer um pouco mais desta paisagem que nos rodeia. Num belo e frio dia nada melhor do que um passeio à beira-mar, aproveitando-se o belo aroma a maresia que enchia o ar rapidamente chegamos à conclusão de que estávamos perdidos… Com a fome a começar a não dar tréguas, o frio a entranhar-se nos ossos e sem dados móveis começámos a subir as rampas verdejantes que dão acesso à estrada. Seguindo os ensinamentos do Mr Bean, todos em unânime levantámos o polegar na esperança de um carro passar, para espanto nosso, o primeiro veículo é um autocarro municipal com destino ao centro histórico. Com um formato surrealmente quadrado a viagem parece ser-se feita numa caixa de fósforos, onde os fósforos seriam os assentos incrivelmente colocados aleatoriamente dentro do autocarro (filas de 3 pessoas, de 2 pessoas, de 1 pessoa…), no entanto estávamos a duas paragens do centro…
Um centro semelhante a Kotor no que toca à sua arquitectura e pedra usada. Porém, sendo uma cidade costeira precisava de se proteger de se proteger de possíveis inimigos, surgindo-se assim uma cidade muralhada com um forte e linha típica de canhões a olhar o horizonte. Graças a um tempo algo deplorável, ficámos com toda uma cidade por nossa conta por descobrir e explorar. Por entre ruas e ruelas, largas e estreitas, com passagem ou sem saída, chega-se às muralhas do forte com uma bela vista sobre a famosa bailarina de Budva.
Tendo chegado tão longe, resistindo-se à fome e ao frio seria penoso não tirar uma foto com a bela bailarina. Então, sem medos da agitação do mar e do pavimento salgado e escorregadio seguimos em frente para a memória final neste país.
Pausa para lanchar antes de regressar a casa (nesta altura em Split, na Croácia) e no que viria a ser a minha maior aventura rodoviária até hoje…. Saindo-se pelas 17h de Budva num autocarro enorme com apenas cinco pessoas (3 portugueses, 1 croata e 1 asiático) rumamos ao posto fronteiriço entre os países, para espanto nosso, o autocarro é “convidado” a parar e como ninguém falava inglês ficamos confusos e receamos o que poderá ter acontecido. Olhando em redor apercebemo-nos de que não fomos os únicos a ficar retidos na fronteira, felizmente já havia quem falasse inglês contando-nos que houve um problema informático do lado de Montenegro. Não podendo fazer nada continuamos a conhecer pessoas onde no meio deste cocktail de nacionalidades encontrámos um albanês que namorava com uma rapariga da ilha da Madeira e que era muito fã dos jogadores de futebol Figo e Deco. Já estando de noite o camarada croata vem ao nosso encontro e em croata diz-nos “um táxi para nós os quatro ficaria a 10€ cada até Dubrovnik”, mas a medo adiamos ao máximo dar uma resposta até que do nada a agência rodoviária manda um táxi para nos levar até Dubrovnik.
Sentindo-nos mais assegurados com o desenrolar da situação olhamos duas vezes para o nosso condutor que se assemelhava demasiado à personagem Hitman (mas que não falava inglês), o que piorando este episódio a sua condução era agressiva demais para quem estava a atravessar um desfiladeiro costeiro de noite sem luzes na estrada…
Chegando a Dubrovnik espera-nos um autocarro, mas… quando menos contávamos este começou a desviar-se para a Bósnia onde trocámos de autocarro. Mais perto de Split, em Makarska, mudamos de novo de autocarro, já a medo começámos a estar atentos ao google maps, e “para variar” notámos que o autocarro começa a desviar-se para Zagreb, em pânico acordo todos, onde pouco depois parámos (pela última vez) num posto de controlo na autoestrada e trocámos, pela última vez, de novo de autocarro (com atividades demasiado escandalosas no seu último banco), onde finalmente chegámos a Split 24h após a nossa saída…
– Numa nota final, hoje posso dizer que apesar de tudo o que se passou recomendo a todos uma visita a Montenegro e deixo a dica para também visitarem o seu interior.