Subida ao vulcão e vinhas vulcânicas – Ilha do Pico, Açores
Com cerca de 200 vulcões inactivos, uma costa rica em baleias e golfinhos e a produção de vinho branco vulcânico, a ilha do Pico (localizada no arquipélago dos Açores) é um local onde pode ser desafiado e surpreendido ao mesmo tempo, enquanto desfruta do melhor que a ilha tem para oferecer.
Partindo da vila da Madalena, onde a vida quotidiana decorre a um ritmo calmo e algo descontraído, é aqui que a maioria dos turistas decide reservar a sua estadia por ser o ponto de partida para visitar a ilha do Faial, onde se encontram a maioria das agências de montanhismo e por ser o ponto de partida/chegada do percurso da rota das vinhas. Na viagem de avião é possível ver as famosas vinhas vulcânicas que em 2004 se tornaram Património Mundial da UNESCO. E a melhor forma de perceber o porquê de tal decisão não é nada melhor do que desafiarmo-nos a percorrer o trilho que passa por elas.
Começamos logo a ter uma experiência verdadeiramente imersiva, navegando ora por corredores estreitos de perda vulcânica, ora por espaços amplos. Tanto por caminhos de terra avermelhada como de asfalto, deparando-nos com os sons das ondas do mar, e brisas suaves vindas dele, e eis que nos teletransportamos para uma realidade calma e relaxante no espaço de meros minutos. Infelizmente, na altura em que visitámos a ilha não era a época da uva, pelo que durante este percurso eram poucas as uvas que se viam nas videiras, mas nada que nos deitasse abaixo, mas sim com mais vontade de explorar e contemplar o ambiente que nos rodeava. Perto do final, encontramo-nos rodeados por inúmeras vinhas, todas delimitadas manualmente por pedras vulcânicas que foram quebradas há séculos, quando se iniciou a colonização da ilha. A vista é verdadeiramente deslumbrante com os tons de verde das vinhas, o preto da pedra e o vermelho da terra a contrastarem entre si, quase como uma pintura.
Algo interessante nesta ilha é o facto de darem a conhecer ao máximo a sua cultura vinícola a todos os seus residentes e turistas, tornando obrigatória uma paragem no museu do vinho (possível a pé a partir do centro da vila da Madalena). À primeira vista será fácil sentirmo-nos perdidos, pois ao contrário do típico museu, este encontra-se numa antiga quinta, agora restaurada, com a sua própria vinha e várias exposições, histórias e utensílios antigos expostos – dando-nos em parte a ideia de estarmos numa antiga adega feita pelos nossos avós. Por fim, gostaria de salientar que apesar de ser um museu, todo o ambiente envolvente faz-nos sentir num ambiente rural longe de qualquer cidade, sem barulho, confusão ou stress.
Com tanta natureza rústica que esta ilha tem para nos mostrar, nada melhor do que descansar com um belo passeio de barco pela sua costa. Como nesta história há sempre uma aventura ao virar da esquina, este não foi um simples passeio de barco, mas sim um passeio para ver golfinhos e baleias. Sim!!!, baleias e golfinhos, a costa desta ilha é um ponto de migração de várias espécies de baleias (incluindo os grandes cachalotes que dominam as profundezas dos oceanos) e golfinhos. Para esta maravilhosa experiência recomendo vivamente o operador “Espaço Talassa”, com este operador pode contar com uma equipa marítima altamente profissional, especializada (composta por biólogos marinhos), cuidando da saúde de todos e com uma excelente seleção de capitães. A esta equipa marítima junta-se uma equipa terrestre que estará atenta a sinais de atividade animal no mar, informando a equipa marítima com coordenadas GPS para onde se dirigir. Meio-dia incrivelmente bem passado com um mar surrealmente calmo e espelhado (dando a sensação de estarmos num lago), com uma alegre companhia de golfinhos que saltavam ao mesmo tempo que o nosso barco balançava e com o avistamento de cachalotes (que só aparecem muito raramente e por breves minutos).
– Quando chegámos à marina o nosso skipper decidiu provar os seus dotes e derrapou logo à entrada da marina com o barco quase a 90º em relação ao mar – felizmente não aconteceu nada de mal e foi uma experiência nova.
Chegou a altura de explorar o porquê desta ilha atrair tantos turistas, ou seja, chegou a altura de subir a montanha (vulcão inativo) que detém o ponto mais alto de todo o Portugal com 2351m – é aqui que a ilha vai buscar o seu nome Pico (tradução literal seria “ponta”). A partida para esta viagem foi feita com algum receio, pois não há nada como navegar ao fim da noite, sem iluminação, apenas rodeado de campos de pasto e do seu gado local, enquanto se saboreia o clássico frio noturno que nos provoca um arrepio ocasional na espinha. Apesar de um início algo dramático, pouco depois da minha chegada ao ponto de encontro (a 1200m), o sol começa a aparecer no horizonte, e sou recebido com o seu calor e uma das poucas formações de nuvens muito caraterísticas desta região.
E aqui partimos em direção ao cume, durante este percurso aprendemos sobre a fauna e flora existente ao longo do nosso percurso – predominantemente tomilho silvestre – bem como os seus visitantes habituais – ovelhas selvagens, tendo já sido avistadas a 2100m de altitude, e por fim algumas lições geológicas a cada etapa percorrida. Durante a nossa subida confesso que se não fosse a brisa fresca que se fazia sentir à nossa volta e as paragens estratégicas, seria um desafio algo complicado de cumprir, mais sentido a 75% da subida, quando começamos a caminhar pelo que resta de antigos tubos de lava (agora petrificados, para não prejudicar a fauna e flora locais) e pelo facto de na chegada à cratera o caminho se tornar de terra solta, onde a cada 2 passos só andávamos 1 para a frente. Mas felizmente estava na companhia de um grupo enérgico e alegre, e todos partilhámos o mesmo espírito e chegámos à cratera deste vulcão adormecido. Nesta altura já tínhamos uma vista de grande parte da ilha e das ilhas vizinhas, e o que mais saltava à vista eram os inúmeros cones de vulcão (cerca de 200 em toda a ilha).
Após uma breve paragem, deixamos todo o nosso equipamento e iniciamos a subida ao cume. Nesta última etapa passámos a uma experiência mais imersiva, tendo agora de subir os últimos metros até ao ponto mais alto, atingindo assim os 2351m. Apesar de se tratar de um vulcão inativo, o vapor de água saía do mesmo, passando por falhas nas rochas e chegando até nós, ora pelo tato, ora a olho nu. Uma vez no topo, sente-se em segundos a melhor sensação possível, um sentimento de missão cumprida, um sentimento de orgulho pessoal, um sentimento de que com algum esforço tudo é possível, um sentimento quase impossível de descrever – tem de ser vivido.
Como diz o velho ditado “Tudo o que sobe tem de descer”, mas antes de iniciar a descida nada como fazer uma pausa para almoço na cratera e absorver mais uma vez a vista deslumbrante sobre a ilha, mas desta vez admirando também o esplendor bruto da própria cratera. Um espaço/ambiente que parece ter sido retirado de um filme tipo “Jurassic Park”, ou mesmo de um filme de extraterrestres, pedra escura com um relevo algo aleatório, que apesar de parecer sem vida, alguns animais e insectos utilizam os seus espaços mais fechados como abrigo e apenas para breves momentos de descanso. Assim termina uma grande aventura com gargalhadas, alguns deslizes e até um par de sapatos partidos, nada que um bom banho e umas cervejas não resolvam.
– No final, recebemos um certificado que atesta que estivemos no ponto mais alto de Portugal.
Com tanta emoção e aventura já vivida, será necessário recarregar energias, e para isso nada melhor que uma massagem. Mas não em qualquer lugar, teria de ser num local realmente calmo onde a palavra zen nos viesse logo à cabeça, e mais uma vez dou por mim a caminhar pelos corredores de terra vermelha das vinhas em direção ao mar, apenas a ouvir o som das ondas e dos pássaros enquanto sinto a leve brisa marítima, e as dores a desaparecerem com o belo toque da massagista.
Embora o arquipélago dos Açores seja formado por 9 ilhas, a ilha do Pico é realmente surpreendente e repleta de actividades diferentes para todos os gostos e para todos os públicos. Podemos contar com a simpatia dos habitantes locais dispostos a ajudar, bem como desfrutar de iguarias que são verdadeiramente únicas nesta ilha. Desde a observação de animais marinhos que vivem nas profundezas do oceano, até ao ponto mais alto de Portugal, a ilha tem muita diversidade e encanto prontos a serem explorados e experimentados.